Toda surpresa traz uma mudança
Heitor olhou assustado para Flávio. Não sabia o que falar, afinal, seu amigo era a causa da mudança de planos. Se segundos antes Heitor estava decidido, agora o cenário era um pouco diferente e ele não sabia o que dizer exatamente pois estava entre o desejo intenso que sentia pelo outro e o desejo forte, mas intimamente não tão expressivo, que sentia por Natalie.
Flávio bebeu um gole da cerveja que segurava e sorriu maldosamente para o amigo.
– Sai daqui, Flávio. Ninguém te chamou. Eu estou conversando com meu boy. – disse Natalie pegando Heitor pelas mãos e indo para o lado de fora do local, onde alguns carros, incluindo o do amigo de Heitor, estavam estacionados.
– Natalie, por favor, me desculpe. Eu queria muito, mas meu pai marcou um jantar em família e vou precisar ir. Fora que, se fosse, só conseguiria ficar por no máximo uma hora e não quero um tempo tão curto para a gente ficar junto.
– Poxa, Heitor! E porque você não me falou quando chegou ou mandou mensagem assim que soube? Eu vim toda preparada…
– Desculpa. Eu fiquei ajudando a minha mãe e quando vi estava na hora de vim para o churrasco. Aí cheguei o Flávio pulou na piscina… Mas, vamos na segunda-feira, o que acha? A gente se encontra depois do meu estágio. Vou sair mais cedo e o resto do dia é só nosso. Pode ser?
Natalie, desapontada, acabou concordando com a mudança de data, e argumentou:
– Segunda eu não posso, mas na quarta eu estarei livre.
– Pode ser. Eu peço para sair mais cedo e a gente fica à vontade o resto do dia, à noite…
– Vou pensar. Você poderia ter me avisado logo quando soube que não poderia ir comigo.
De fato, ele iria conversar com ela para combinarem a saída após o jantar familiar, mas a proposta de seu amigo, naquele momento, soava muito mais tentadora. Havia mais de um mês que os dois não se encontravam e a saudade, e a vontade, já batiam forte.
– Eu vacilei e peço desculpas, Natalie.
– Vou pensar e depois a gente conversa. – disse a jovem voltando para a piscina e deixando ele sozinho do lado de fora.
– Droga! Eu deveria ter falado com ela logo que cheguei.
Flávio então abriu o portão, se aproximou e disse:
– Falou a verdade para a sua namoradinha?
– Fala baixo, cara. Ela já está brava comigo e você ainda vem falando isso.
– Relaxa que ninguém vai ouvir pois o som está alto lá dentro. Mas, me diz, você falou com ela que não vai ao encontro que vocês combinaram pois vai provar de outra fruta que você gosta?
– Você é ridículo, cara. – esbravejou.
– Eu só não te dou um beijo aqui pois pode aparecer alguém. Mas, se eu estivesse com duas latinhas de cerveja a mais na cabeça, não estava nem aí. Assim, quem sabe você se acalma um pouco. – disse Flávio dando um sorriso.
– Você fica bebendo e… Como vai fazer para voltar para casa se você veio de carro? Eu saio depois de você e vou chamar um Uber. – disse o outro.
– Não dá nada. Pego meu carro, aviso meu tio policial, passo a minha placa e nada acontece. Chego em casa e te espero todo ensaboado no banheiro. Que tal?
– Você é convencido demais, Flávio.
– Eu sei que você me curte. Eu também te curto e está tudo certo. E ano que vem prometo que a gente vai se ver mais, pois sei que você prefere estar comigo do que com a sua namorada. E confesso que às vezes eu também prefiro estar com você do que com essas meninas com quem eu saio.
– Hum… Está se apaixonando por mim, Flávio?
– E depois o convencido sou eu. – respondeu o outro rindo.
– Bom, eu vou entrar e tentar acalmar a Natalie. – disse Heitor.
– Não, vamos embora agora. Esse papo todo me deixou com mais vontade. Entra, fala que eu estou passando mal e que você vai me levar em casa.
– Você está louco? Eu preciso conversar com a Natalie. Ela está brava comigo.
– Mas, ela não vai se negar a te emprestar para acudir um cara doente. Vai?
Heitor saiu andando e foi em direção à namorada. Ele a abraçou por trás e ela se soltou dizendo:
– Ainda não engoli a história que você me contou.
– Eu sei que vacilei, mas já pedi desculpas.
Flávio então chegou perto dos dois e disse:
– Natalie, preciso que você me empreste o seu namorado. Não estou bem e preciso que alguém me leve em casa. Vou tomar um remédio para o estômago e se não melhorar vou procurar um pronto socorro.
– Poxa, Flávio! O que você tem? Você misturou bebida? – perguntou a jovem em tom de preocupação.
– Não, eu só tomei cerveja e comi algumas carnes. Acordei meio enjoado e agora deu uma piorada. Me leva em casa, Heitor? Por favor!
Ele, sabendo da armação de Flávio, hesitou um pouco, mas ela interveio:
– Vai, leva o Flávio na casa dele.
– Mas, Natalie… A gente precisa conversar…
– Depois a gente marca certinho o dia que a gente vai se encontrar. Agora, vai ajudar o Flávio. Deixa que eu explico para o pessoal o que aconteceu.
Heitor colocou a roupa, que estava jogada perto de uma cadeira, pegou a carteira e o celular e amparou o falso doente, que simulou estar com tontura.
– Nossa, acho que vou vomitar… – disse ele quando começou a se afastar de Natalie.
– Então, usa o banheiro. – disse a jovem.
– Não vá vomitar dentro do seu carro. Não vou dirigir até sua casa com cheiro de vômito. – argumentou Heitor.
– Vamos embora logo e cala a boca. A vontade de vomitar já está passando.
Heitor caminhou amparando Flávio até o carro e todos que viram a cena começaram a se perguntar o que estava acontecendo. Natalie pediu para desligar o som e explicou a situação do falso doente. Quando eles chegaram no carro, um colega de turma se aproximou e disse:
– Vocês querem que eu vá junto? Minha mãe é enfermeira e posso ligar para ela se precisar.
– Não, cara. Vai ficar tudo bem. Obrigado! – disse Flávio, com voz em tom de sofrimento. Um sofrimento mentiroso, mas convincente o suficiente para fazer o colega devolver um olhar compadecido.
– Heitor, me avisa quando tiver notícias e eu ajudo a avisar o pessoal. Pode ser? – pediu o colega de turma.
– Fechou, cara! – disse Heitor.
Os dois entraram no carro e Heitor deu a partida. Assim que se afastaram, Flávio parou de fingir e disse, apertando a coxa do outro:
– Hoje eu só quero você.
No caminho, eles conversaram sobre a farsa e Heitor disse ao final:
– Você não vale nada!
– Mas, você gosta de mim… – devolveu Flávio, em alusão à uma antiga canção popular.
Os dois riram e continuaram falando sobre assuntos da faculdade até chegarem no prédio onde o ex-doente morava com a família. O carro foi estacionado e os dois subiram de elevador até o último andar. Ao abrir a porta do apartamento, encontraram os pais de Flávio no sofá conversando com uma jovem.
– Suellen? O que você está fazendo aqui? Eu te falei que tinha churrasco da minha turma e que não estaria em casa… – disse o amigo de Heitor, assustado com a presença de uma das garotas com quem ficava bem raramente.
– Essa moça chegou agora a pouco, pouco antes de seu pai e eu sairmos para ir buscar seu irmão. Ela tem algo muito importante para te dizer.
– O que aconteceu, Suellen? Você poderia ter me ligado, eu te falei que não estaria aqui.
– Eu te liguei, mas só dava caixa postal e o que eu tenho para falar não poderia esperar. Então resolvi vim aqui para pedir a ajuda dos teus pais.
– Tá bom, mas… O que aconteceu?
– Eu… Eu estou grávida, Flávio. E… E o filho é seu!

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